Oscar Vitorino Moreira Mendes

Méd.-Vet. e Prof. Aposentado da UESB

Sem dúvidas, vive-se um momento singular, no Brasil e no mundo. Mas o que dizer de tudo isso? Como viver e conviver com esse novo momento? É certo que essa pandemia pegou a todos de surpresa; mas também é certo que, de há muito, convive-se com outras pandemias. Senão vejamos: a pandemia da fome, a pandemia da miséria, a pandemia da escravidão, a pandemia da intolerância, a pandemia do feminicídio, a pandemia da homofobia, a pandemia do racismo entre outras. Como é possível constatar; haja pandemias! Entretanto, ainda não se aprendeu a conviver com nenhuma delas, e tampouco foram criadas vacinas para banir tais doenças.

            Este texto não tem a pretensão de abrir discussão sobre outras “pandemias”, mas especificamente, sobre esta que atualmente aflige toda a humanidade, a pandemia da COVID-19, que vem adoecendo e matando pais, filhos, amigos, parentes, pretos, brancos, pardos, fortes, fracos, ricos, pobres, recém-nascidos, jovens, adultos, idosos, médicos, enfermeiros, policiais, técnicos de enfermagem, caminhoneiros, profissionais liberais, resumindo, todas as categorias. O coronavírus tem avançado descontroladamente impactando todas as áreas da sociedade humana.

              Etimologicamente falando, a palavra pandemia tem sua origem no grego pandemias; que significa “todo o povo”. Também representada pela junção dos elementos gregos: “pan” (todo, tudo) e “demos” (povo). Pandemia é uma epidemia, especificamente falando de doenças contagiosas, que se espalha geograficamente, saindo do seu lugar de origem, e assolando praticamente o mundo inteiro: é o caso da pandemia da Covid-19. Sem sombra de dúvidas, essa pandemia trouxe para todos muitos mistérios, os quais ainda não foram decifrados, apesar de os cientistas e pesquisadores já terem entrado em campo a serviço da ciência, em busca de respostas para essa grave e cruel pandemia, por tratar-se de um vírus desconhecido entre eles; apenas alguns indícios.

            Definitivamente, ainda não se sabe o comportamento do vírus, como ele age, qual a sua predisposição no organismo humano, qual a sua variação ou seu ciclo vital. Tudo está sendo novidade para o mundo científico. Mas enquanto isso, até que se chegue a uma vacina para combater esse grande mal, os fenômenos vão ocorrendo e se alastrando pelo mundo afora, provocando um medo estarrecedor, chegando ao ponto de as autoridades estaduais e municipais tomarem decisões difíceis, mas necessárias, a exemplo de: suspensão de aulas em escolas públicas, municipais, estaduais e universidades; manter aberto, apenas farmácias, supermercados, padarias, velatórios, cemitérios, assim mesmo até determinados horários, uso de máscaras para todos, inclusive nas ruas, chegando ao ponto de se decretar o lockdown (bloqueio total) e toque de recolher.

            Relembrando que, até bem pouco tempo, vivia-se normalmente, saindo para o trabalho diariamente, de carro, de ônibus, moto particular ou de moto-táxi, caminhando, ou até mesmo de carona; participando de reuniões, academia, saindo para caminhar ou praticar algum esporte. Isso tudo mudou! Tudo está muito complicado. A mobilização online, a partir da tomada de ação coletiva em busca de medidas positivas, está sendo uma das formas que podem nos ajudar a “driblar” o distanciamento social necessário imposto pelo coronavírus e, de forma virtual e segura, enfrentar uma pandemia tão avassaladora.

            Contempla-se um cenário que não é dos melhores, ao contrário, é muito triste, estarrecedor e preocupante. São mortes e mais mortes que vêm ocorrendo pelo coronavírus em várias cidades do país; vários casos de morbidade. Os hospitais estão superlotados, outros estão sendo construídos emergencialmente em várias cidades. Há ainda a necessidade de respiradores, de UTIs, de profissionais da área de saúde: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem, chegando ao ponto de algumas universidades estarem antecipando a colação de grau de estudantes da área de saúde (médicos, enfermeiros e fisioterapeutas) para que esses profissionais possam atuar, de imediato, no Programa Covid 19, devido à carência para as exigências do momento. O problema é muito sério. Está-se vivendo uma calamidade, e não se sabe por quanto tempo…

            Enquanto isso, em outros setores da sociedade, muitos funcionários estão sendo dispensados de vários serviços: casas residenciais, casas comerciais como bares, restaurantes, e outros tipos de comércio que estão fechando as suas portas, num total desespero e desesperança. Há que se falar também no isolamento social. As pessoas são orientadas para ficarem em suas casas, saindo apenas numa grande necessidade. Para proteger as pessoas da contaminação, foi instituído o delivery (entrega em domicílio). Seguindo a mesma estratégia de proteção, atualmente, as reuniões, missas, ou outras atividades que geram aglomeração estão sendo realizadas online. Pela mesma razão, também estão suspensas as feiras livres, festas, shows e eventos semelhantes.

            Mesmo sabendo que o isolamento social faz parte do elenco das medidas de proteção do indivíduo, há diversos relatos, afirmando que o isolamento tem causado episódios de estresse, depressão e mau humor em muitas pessoas. Acredita-se que isso ocorra naqueles indivíduos que não têm buscado desenvolver outras atividades diferentes, daquelas que se vivia em condições normais. Por exemplo: pessoas que não tinham o hábito de brincar com os filhos, que agora passem a fazê-lo; se não assistiam a filmes na TV, devem aproveitar esse momento para buscar essa forma de lazer que diverte e instrui; procurar fazer exercícios físicos diariamente, como se estivesse numa academia ou numa caminhada; aqueles que forem ligados a uma confissão religiosa encontrarão nos diversos canais de televisão e nas diversas plataformas digitais muito alimento para enriquecer a sua espiritualidade; há muito o que fazer com neste tempo que está “sobrando”; mais sugestões: ler uma revista, um livro; conversar mais com a (o) companheira (o); ajudar a pôr a mesa; cuidar dos animais (se houver); entrar em contato com os familiares e pessoas amigas através do WhatsApp (praticamente todo mundo dispõe de celular); se gostar de novelas, assista-as, ou então outros programas mais interessantes. É por aí!

            É certo que uma situação como esta, que apanhou a comunidade humana de surpresa, provoca inúmeros transtornos, mas há que se buscar a superação. E o ser humano é capaz disso.

            Vivendo neste momento o mesmo processo dramático que é a COVID 19, os idosos estão literalmente recolhidos, em casa, há aproximadamente cento e vinte (120) dias e, pela graça de Deus, recebendo dos filhos, noras, genros e amigos, a ajuda nos afazeres de rua, afinal, os idosos são consequentemente, bastante vulneráveis. Na verdade, essa pandemia deixa a todos enfraquecidos, preocupados, pensativos, cabisbaixos e completamente indefesos. A situação é dramática! Mas, em hipótese alguma, pode-se perder a fé, a esperança e o amor, são as três virtudes dadas por Deus e delas o ser humano necessita para alimentar e sustentar a sua vida com todos os seus desafios.

            Merece atenção e reflexão um outro aspecto advindo da pandemia: por mais paradoxal que pareça, a pandemia vem fazendo com que as pessoas aprendam a ajudar o próximo. É confortador assistirmos pela TV, e acompanharmos em nossa cidade, grupos de pessoas trabalhando diuturnamente na distribuição de cestas básicas para pessoas carentes, moradores de rua, abrigo de idosos, bem como caminhoneiros. E os gestos de solidariedade vão se ampliando: as empresas estão distribuindo máscaras, álcool gel, roupas e outros produtos. O governo está doando certa importância como forma de auxílio emergencial, dando prazo para pagamentos de empréstimos tomados. Paralelamente a tudo isso, vacinas estão sendo testadas em humanos voluntários, fazendo com isso brotar uma esperança para todos; almeja-se que no tempo mais breve possível, a humanidade esteja livre desse mal. Embora se saiba que a ciência é eficiente, sabe-se também, que no caso de obtenção de vacinas, requer-se muito tempo.

            Enquanto a vacina não chega, deve-se aproveitar o tempo para se fazer sinceras orações, sérias reflexões sobre tudo o que está acontecendo, e realizar significativas aprendizagens que gerem mudanças concretas no comportamento humano. É tempo de se avaliar o tratamento que patrões dispensam aos seus funcionários; o tratamento dispensado aos (às) colegas de trabalho; o modo como está o desempenho das profissões; observar se há um agir ético; se as pessoas estão se tratando bem, com respeito, tolerância e cordialidade; observar se as pessoas estão conseguindo se perdoar umas às outras; também é tempo de avaliar o relacionamento dentro da família. Passada a pandemia, tudo isso precisa estar bem ajustado para um novo caminhar. Nada será como antes.

Não é possível lidar com este vírus, combater essa grande pandemia que aflige a todos nós, quando uma parcela da sociedade age de maneira egoísta. Não basta o governo dizer “fiquem dentro de suas casas”, se há pessoas socialmente inconsequentes e irresponsáveis, que pensam que essa pandemia é uma brincadeira, é uma “gripezinha”, que vai passar logo! Já é possível notar que o coronavírus não veio a passeio; é hora de cada indivíduo assumir sua responsabilidade nesta luta em favor de todos.

            Vê-se que a crise atual tem um impacto ainda mais perverso sobre a população de baixa renda. Muitos profissionais sobrevivem da economia informal ou dependem de remuneração por serviços pontuais para pagar as despesas do dia a dia. Não se pode nem se deve pensar em Deus como o responsável pelo vírus, como absurdamente tem-se afirmado. Muito pelo contrário, Deus quer o bem da humanidade. O homem é quem precisa mudar seus hábitos, seu modo de ver o mundo, o modo como se relaciona com o próximo, buscando ser mais solidário, mais amigo, mais paciente, mais tolerante, e não pensar no homem como o centro do mundo. 

        Uma pergunta que não poderá deixar de ser feita é: 

        “Como seremos depois dessa pandemia”?

        Será que voltaremos ao passado recente ou vamos aproveitar os ensinamentos “oferecidos” pela COVID 19? 


 

 

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